sexta-feira, 27 de março de 2015

-- as cólicas e a minha mágoa.

Desde quando meu filho tinha 2 dias de vida, ele tem cólicas. que tem início + no fim da tarde, e às vezes seguem noite a dentro.
eu chorava muito no começo.
não sabia o que fazer, não conseguia acalmá-lo, em fim. o sofrimento dele me incomodava muito.
agora que ele está com quase 2 meses, pude ler na internet um artigo imenso, que me ajudou muito a entender a respeito.
vou colar aqui  o texto para que mamães como eu, não se angustiem tanto, e para que encontrem nestas informações, algo que possa ajudar seu bebê que sofre com essas crises de cólicas.


cólicas parte 1.
Uma das dúvidas mais comuns das mulheres, desde gestantes até depois do parto, discutidas tanto em consultas quanto em grupos de apoio ou entre familiares, razão dos mais diversos métodos de diagnóstico e sugestões de tratamentos, a cólica infantil parece muito mais comum do que ela realmente é, segundo mostram pesquisas.
E muito embora ainda haja estudos recentes sobre causas e tratamentos de cólicas infantis, a definição é a mesma usada desde 1954 (isso mesmo, artigo publicado no Pediatrics de novembro de 1954), onde se faz uma revisão sobre os termos “cólica infantil” ou “agitação paroxística” e um  estudo sobre o sintoma: mais de 3 horas de choro por dia, por mais de 3 dias por semana por mais de 3 semanas.
Nesse estudo (lembrem-se que é de 1954), o quadro acontecia a partir da 2ª semana de vida, com um pico na 6ª semana durando até entre a 12ª e a 16ª semanas (entre 3 e 4 meses), na maior parte das vezes no final da tarde e à noite, em bebês com características semelhantes (peso ao nascer, ganho de peso, sexo, escolaridade materna, história familiar de alergia e alimentação). Em quase 50% dos casos sintomáticos, a tensão familiar foi considerada fator importante no desencadeamento desse sintoma (25% de casos, nesse estudo, não se encontrou causa aparente). E a conclusão dos autores, em 1954, foi que a cólica infantil seria “possivelmente uma das respostas somáticas mais precoces à presença de tensão no ambiente”.
A primeira questão a se pensar seria:
- Por que razão, os dados numéricos (mais de 3 horas por dia, mais de 3 dias por semana, por mais de 3 semanas) persistiram como verdade absoluta e são base para estudos modernos sobre cólicas, mas o dado mais relevante do estudo, ressaltado na conclusão pelos autores, sobre a influência de tensão familiar (representando fatores emocionais) é constantemente "esquecido" e não é levado em consideração?
Recém-nascido chorando - Foto: esmo/Shutterstock.com
Da vida no útero para a vida “sem lar”.
Antes de continuarmos a conversar sobre cólicas, que tal entendermos um pouco mais sobre a transição da vida de feto para recém-nascido? No meu livro “Gerar e Nascer – um canto de amor e aconchego” (2008), na segunda parte, capítulo 2, faço uma longa reflexão sobre isso. Mas quero trazer aqui alguns pontos em especial:
Onde fica o bebê?
Nós costumamos ter a ideia de que o bebê é um pontinho minúsculo que fica nadando na imensidão da “piscina amniótica”. Isso não é bem real. O aumento de tamanho do bebê durante as semanas de gravidez é que “induz” o útero a crescer. Assim, quando chega perto do parto, apesar de termos o líquido amniótico, a placenta e o cordão umbilical dentro do útero, é quase como se o bebê “vestisse o útero“ e fosse uma roupa um pouco folgada. É por essa razão que a mamãe sente, por exemplo, nas costas, a cada vez que seu filhinho amado estica uma perna, ou perto do estômago quando ele resolve se “espreguiçar”. O útero é um órgão muscular resistente, capaz de se esticar e aumentar X vezes seu tamanho, para abrigar o bebê dentro dele. E aí ele fica no líquido amniótico, que é estéril e quentinho.
Som
Uma das razões que fazem os bebês pararem de chorar quando estão no colo de sua mamãe é o fato de se “lembrarem” de um som que os acompanhou por essa jornada: o coração materno. Temos medo do que não conhecemos, mas quando encontramos um rosto amigo, familiar, costumamos nos acalmar. Acontece assim com seu filhinho também. Além desse som, o bebê convive com os (não tão românticos) ruídos hidroaéreos do aparelho digestório da mamãe. Assim, pensem bem antes de passar por aquela orgia alimentar, pois isso poderá gerar gases que, perto de um útero, podem, no mínimo, incomodar a paz e a harmonia desse ambiente.
Além dos sons intrauterinos, ele pode sentir a vibração das vozes que tentam se comunicar com eles durante a gestação. Músicas, as vozes do papai e da mamãe são sempre bem recebidas (para todos) durante essas 40 semanas (parece mais do que 9 meses, não parece?).
Proteção
Dificilmente, o bebê vai encontrar, durante toda sua vida, um local onde ele fique mais protegido do que no útero materno. E a mamãe também, pouco provavelmente, vai se sentir mais super-protetora em algum outro momento que não seja esse.
Enquanto está dentro do útero materno, alguns riscos são minimizados e quase ausentes.
- Fome – todo alimento que o bebê necessita é trazido a ele através do sangue do cordão umbilical. Assim, ele não perde a hora de comer, não come demais nem de menos, e ele come “aquilo que você comer”. Assim sendo, cuidado com a sua alimentação. Alguns estudos mostram a importância do hábito alimentar da gestante na criação do hábito alimentar de seus bebês após o parto.
Alimentação
Aqui, a futura mamãe não poderá dizer a mais conhecida frase em consultórios pediátricos: - “Doutor, meu filho não come.”
Isso porque o “alimento” chega através do... adivinhem... isso mesmo: do cordão umbilical também. Os nutrientes que o bebê necessita chegam através do sangue que vem da mamãe. E aí, seu filho não vai dizer que não gosta de verdura, que prefere chocolate ou salgadinhos. Então, se você não quer que ele coma nada disso, preste muita atenção na sua alimentação, viu? Tenha uma dieta equilibrada e saudável porque isso será o primeiro passo para cuidar da saúde de seu bebê, agora e para o futuro.
Enquanto estamos dentro do útero (embrião e feto), temos nossas necessidades básicas preenchidas. Imediatamente após o parto, sem nenhum aviso prévio, perdemos nosso lar (útero), nossa amiga (a placenta – conhecida em muitos lugares no Brasil como “companheira”) e a nossa linha da vida (cordão umbilical – por onde chegam o oxigênio e o alimento).
Essa é uma grande perda, abrupta, profunda e até assustadora. O bebê pode reagir para, inconscientemente, tentar retomar a intimidade e a suficiência da vida que vivia até então.
Será que existem mesmo cólicas? Será que isso não é parte do desenvolvimento e da evolução dos bebês numa tentativa de resgatar sua rotina anterior? Nas próximas semanas estaremos retornando a esse assunto e tentando colocar uma luz diferente no final do túnel. Te espero aqui, tá?
http://guiadobebe.uol.com.br/colicas-em-bebes-parte-1/

cólicas parte 2:
Nesse “capítulo” e no próximo, quero levar vocês comigo em uma viagem muito diferente, mas muito legal (pelo menos, em minha opinião) e gostaria que vocês pudessem, por algumas linhas, ter a mente aberta para novas informações e sensações.
Depois disso, poderemos  ter novas “ferramentas” e novos caminhos a trilhar para compreender não só as cólicas, mas o choro e o desenvolvimento dos nossos bebês e não teremos mais medos, preocupações ou noites sem sono e sim uma fase linda da vida da família, da qual teremos saudades.

cólicas parte 3:
Recomeçando essa semana com o final da semana passada:
“Já consegui convencer vocês que nosso bebê nasce antes do que devia (prematuro), que precisaria de pelo menos mais 9 meses de gestação para nascer "mais pronto", que demora a se desenvolver e precisa da presença mais constante de seus pais e familiares para que esse processo ocorra da forma mais satisfatória e completa possível?”
Mesmo que vocês não tenham toda essa certeza, vamos a mais fatos para que se comece a compreender um novo conceito sobre cólicas?
Bebê recém-nascido no colo da mãe - Foto: Kati Molin/Shutterstock.com
Respiração
Conceito do Dicionário Caldas Aulete
Na respiração, em processo normalmente automático, o aparelho respiratório primeiro inspira ar (rico em oxigênio) do exterior e o encaminha por vários dutos sequenciais para os pulmões, onde o oxigênio é transferido para o sangue e onde o sangue transfere o gás carbônico para os pulmões; logo em seguida expira para o exterior o ar com o gás carbônico, e o ciclo recomeça. O aparelho circulatório, através do sangue, leva o oxigênio a todas as células do corpo, delas retira o gás carbônico e o leva aos pulmões para ser expirado.
Dentro do útero, a respiração (troca de gás carbônico por oxigênio) é feita toda pelo cordão umbilical (2 artérias e 1 veia umbilicais) e pela placenta. Dentro do útero os pulmões do nosso bebê estão imersos em água (líquido amniótico) e não podem “respirar” (inspirar e/ou expirar).
Aí o bebê vai nascer. Assim que ele sai ou é retirado do útero materno (parto via vaginal – normal ou fórceps - ou via abdominal – cesariana) o bebê ainda está ligado à sua mãe através do cordão umbilical. Nossa recomendação é aguardar para clampear (cortar) o cordão até que ele pare de pulsar (clampeamento tardio de cordão), que deve durar no máximo 2 a 3 minutos após o parto.
Enquanto pulsa, o cordão ainda está levando oxigênio para o bebê e aguardando que ele assuma sua própria respiração através dos pulmões que não “trabalhavam” no útero. Assim que o cordão umbilical for cortado, o nosso bebê terá que respirar por conta própria, em um processo totalmente novo.
Alimentação
Enquanto dentro do útero, todos os nutrientes que o bebê necessita para crescer de forma adequada e se preparar para o nascimento são enviados constantemente para ele... adivinhem!!! Isso mesmo. Olha ele aí de novo: o cordão umbilical.
Dentro do útero, nesse momento, o sistema digestório está inativo e é estéril, sem nenhuma bactéria sem flora intestinal e ele não evacua dentro do útero. Se isso acontecer é um sinal de alerta.
Assim como a respiração é constante, a oferta de alimentos para o bebê é contínua, ou seja, sem que ele peça para comer. Isso é quase... uma livre-demanda, sem a demanda, não é mesmo?
Essa chegada constante do alimento ao bebê é fundamental para seu crescimento, para que ele não tenha hipoglicemia (falta de açúcar no sangue) e não corra risco de morte.
Assim, mais uma vez, nossa recomendação é aguardar para clampear (cortar) o cordão só quando ele parar de pulsar (clampeamento tardio de cordão), que costuma acontecer no máximo 2 a 3 minutos após o parto.
Enquanto pulsa, o cordão ainda está levando nutrientes para o bebê e aguardando que ele assuma sua própria alimentação através do sistema digestório que não “trabalhava” no útero. Assim que o cordão umbilical for cortado, o nosso bebê terá que se alimentar por conta própria, em um processo totalmente novo.
Movimentação
Enquanto dentro do útero, o bebê “passeia” com sua mamãe e vai com ela onde quer que ela vá. O bebê está sempre acompanhado e acompanhando sua mãe. Em momento algum, esse bebê fica sozinho.
Ele é acompanhado pelo som do coração, da respiração, do intestino e da voz de sua mãe e de seu pai, além do som do... de novo??? Pois é, tá ficando monótono: o cordão umbilical.
E o bebê responde aos movimentos de sua mãe com a sua própria movimentação. A falta de movimentos fetais pode ser mais um sinal de alerta em relação a riscos desse bebê.
Assim como a movimentação é constante, os sons são constantes, mesmo quando cessa a movimentação e a mamãe está deitada dormindo, o embalar esse bebê faz parte de sua rotina dia e noite. Isso é quase... um colo lá dentro, não é mesmo?
Assim, mais uma vez, nossa recomendação é aguardar para clampear (cortar) o cordão até que ele pare de pulsar (clampeamento tardio de cordão), que deve durar no máximo 2 a 3 minutos após o parto.
Enquanto pulsa, o cordão ainda está garantindo para o bebê um pouco mais de “colo” antes de o bebê perde seus limites físicos (o útero da mamãe) e ter que enfrentar esse mundo sem limites.
A prematuridade
O bebê nasce e tem que aprender, de repente, a respirar, se alimentar e viver sem sua mãe sempre por perto, mesmo sem estar preparado para isso, indefeso.
Emocionalmente, fisicamente, psicologicamente, funcionalmente o bebê-humano é, entre os animais o que nasce mais despreparado e, mesmo assim, é o único que é afastado da mãe logo que nasce e o que encontra mais resistência social para que seja amamentado, carregado e pego no colo, receba o calor que precisa para que suas “funções funcionem”.
E essas transformações levam tempo. Aprender a mamar, a pega adequada, a forma de alimentação complementar, a digestão adequada a cada uma dessas fases. Aprender a respirar adequadamente. Aprender a viver de forma mais independente pode levar mais tempo, meses até.
Acho legal uma ideia que li:
“Nascimento não é apenas o início da vida da pessoa, mas implica também o fim da gestação. O nascimento representa alterações funcionais complexas e muito importantes que servem para preparar o recém-nascido para a passagem sobre a ponte entre a gestação no útero e gestação que continuará fora do útero.” (Montagu, 1986).
E é com esse novo conceito de “gestação fora do útero” que acabo essa nossa conversa dessa semana e vou começar a próxima. E acompanhando aqui, aos poucos, vou tentar fazer o elo entre essas “novidades” e as cólicas do bebê. Juro. Podem acreditar. Rsrs.
Vamos lá?
Todo ser humano nasce prematuro
Bebê logo após trabalho de parto recebendo cuidados médicos - Reynardt/Shutterstock.com
Muitos estudos e muita observação mostra que independente de nosso tempo de gestação (9 meses – quase 270 dias), se de termo ou não, todas as crianças da “raça humana” nascem antes do tempo, quer seja avaliada a questão clínica, física, social ou psicológica.
Após uma gestação inteira de preparação, a criança quando nasce não sabe se alimentar sozinha, não enxerga adequadamente, escuta mal, não fala, não anda, não senta, não sustenta nem a cabeça, não se relaciona com os seus semelhantes e leva muito tempo para atingir um patamar próximo ao do recém-nascido de qualquer outra raça do reino animal. Isso significa que, se esse bebê fosse deixado para se virar por conta própria e não tivesse a sorte de ser um Tarzan (o rei da selva -1918) ou um Mowgli (o menino lobo), ele certamente não sobreviveria.
Isso mostra sua necessidade e até dependência dos adultos da sua família para seus cuidados, alguns dos quais só pode ser suprido pela mãe.
Mas, se por um lado, ser prematuro significa que o bebê não está pronto ao nascer, como grande parte dos animais que dependem de habilidades para sobreviver desde muito cedo, por outro lado, ele está aberto para se desenvolver de forma única, podendo ser mais flexível em suas adaptações e tem constante necessidade e capacidade de inovar e aprender. E esse meio ambiente influencia diretamente o desenvolvimento da criança.
Com poucas horas de vida, boa parte dos animais está preparada para andar, correr, buscar seu alimento, se esconder e se defender. Um “bebê da raça humana” pode levar anos para se desenvolver a esse nível. Essa é uma das razões pelas quais a infância é tão longa até chegarmos à adolescência.
Somos inteligentes e racionais
Ou quase isso.
Vamos a uma sessão você sabia?
- Você sabia que um bebê nasce com um cérebro de 25% do tamanho do cérebro do ser humano adulto?
Ao nascer, nosso cérebro pesa cerca de 350 gramas (no adulto chega a 1.400 gramas) e tem um volume 4 vezes menor do que o do adulto. Após um mês, ele pesa 420 gramas, ao final de um ano 700 gramas (metade do tamanho do adulto).
Passamos apenas 2% de nosso tempo de vida na infância, mas 80% de nosso cérebro cresce até os 2 anos de idade e 90% aos 3 anos.
Essa lentidão do desenvolvimento do cérebro e do nosso desenvolvimento (comparada ao de outros animais) pode ser vista como uma vantagem porque possibilita a influência do meio em que ele vive em seu desenvolvimento ao longo da vida, permitindo uma maior capacidade de aprendizagem e uma adaptação ao meio. Mas, isso também mostra uma maior necessidade da presença de outros seres humanos, de preferência da família e, sempre que possível dos pais, nesse processo.
- Você sabia que um macaco nasce com 50% do tamanho do cérebro do macaco adulto?
Isso mostra que um macaco recém-nascido (após 237 dias de gestação se for um chimpanzé) já nasce com condições de um desenvolvimento e uma adaptação muito mais rápida que a do bebê humano, até porque precisa disso para sobreviver em seu meio ambiente natural.
Estudos de 1944, por Adolf Portmann (zoólogo - 1897-1982) já mostravam que para um bebê humano recém-nascido atingir a fase do desenvolvimento de um macaco recém-nascido, a gestação teria que ter 21 meses. Será que alguma mãe estaria disposta a esperar assim?
Outro autor (Bostok) dizia que para que um recém-nascido pudesse “pensar em se cuidar sozinho”, tentando escapar de perigos por conta própria, ele precisaria pelo menos engatinhar (ficar “quadrúpede”) e isso acontece por volta de 266 dias após seu nascimento (9 meses), ou seja, o mesmo tempo de uma gestação dentro do útero.
Assim os macacos, assim como outros “animais irracionais” nascem prematuros, mas permanecem imaturos por menos tempos do que os bebês de “animais racionais” (nós).
- Você sabia que é o tamanho da cabeça do bebê e da pelve estreita da mãe que determina a hora de nascer?
No último trimestre de gestação, o cérebro do bebê cresce demais. Se os bebês não nascessem após 266 dias de gestação, e ficassem mais tempo dentro do útero, e se seus cérebros continuassem a crescer na mesma velocidade, a cabeça não passaria pelo canal vaginal e colocaria em risco a sua vida e a de sua mãe. Dessa forma, mesmo sem estar “completamente pronto”, o bebê precisa nascer e nasce por conta própria, ao seu próprio tempo.
Isso mostra a necessidade do cuidado do nascimento ao tempo certo, sem nada nem ninguém para apressá-lo. Ele já está nascendo antes do que deveria para estar pronto. Tirar um bebê do útero sem respeitar seu próprio tempo de desenvolvimento (cérebro, sistema digestório, circulatório, respiratório) pode acarretar grandes riscos para sua sobrevivência após o corte do cordão umbilical.
Já consegui convencer vocês que nosso bebê nasce antes do que devia (prematuro), que precisaria de pelo menos mais 9 meses de gestação para nascer “mais pronto”, que demora a se desenvolver e precisa da presença mais constante de seus pais e familiares para que esse processo ocorra da forma mais satisfatória e completa possível?
Vamos devagar, tá? Sem pressa. Vou dar um tempo para se digerir melhor essas informações e voltamos na semana que vem, pode ser? Aguardo vocês aqui de novo.
cólicas parte 4.

Deixei um tempo maior para apresentar essa não-última parte dessa série para que vocês se acostumassem com esses novos conceitos e essas novas ideias, tivessem dúvidas, esclarecessem aqui ou com seus pediatras.
Daqui pra frente, é necessário dividir as crianças com as chamadas “cólicas” em três grupos:
Grupo 1: Criança saudável, em aleitamento materno exclusivo, com ganho de peso e estatura considerados adequados, sem patologias.
Grupo 2: Criança saudável, em aleitamento materno misto ou uso exclusivo de fórmulas infantis, com ganho de peso e estatura considerados adequados, sem patologias.
Grupo 3: Criança com alguma patologia (doença de refluxo gastroesofágico, intolerância à lactose, alergia à proteína do leite de vaca, entre outras), com ganho de peso e estatura considerados inadequados.
Bebê chorando no colo da mãe - Foto: Johanna Goodyear/Shutterstock.com
Vamos nos ater especialmente às crianças do grupo 1, também abordando as crianças do grupo 2 (sem patologias). As crianças do grupo 3 apresentam as chamadas “cólicas” como parte de seus sintomas que podem ser provocados, normalmente, pelo seu quadro e pelas agressões ao seu sistema digestório.
Assim, vamos falar de bebês saudáveis, que choram demais e que apresentam como diagnóstico: cólicas.
Cólicas em bebês existem mesmo?
Quando um bebê tem febre (temperatura acima de 37,8), medimos no termômetro e podemos constatar esse dado de forma clara e sem nenhuma dúvida. Se um bebê “coloca o leite para fora” após a mamada, temos a prova de um refluxo de leite. Quando um bebê evacua mais vezes do que o habitual e perde peso, podemos estar defronte de uma criança com diarreia e/ou desidratação.
Infecções urinárias, otites, bronquiolite, broncopneumonias são quadros que podem ser diagnosticados através de uma consulta, com avaliação clínica, seguida (ou não) de exames laboratoriais (de sangue, urina) ou de imagens (radiografias, tomografias entre outros).
Mas como podemos diagnosticar com certeza absoluta que um bebê tem cólicas? A cólica é definida como uma contração dolorosa de um órgão oco. Como é possível fazer esse diagnóstico de certeza?
Alguns pesquisadores acreditam que a cólica esteja relacionada à imaturidade do sistema digestório e que o intestino, por não ter aprendido ainda a funcionar de forma adequada, visto que dentro do útero a nutrição e alimentação do bebê eram feitas pelo cordão umbilical, contrairia de forma desordenada causando um descompasso da movimentação de fezes e gases e geraria dor. Esse desenvolvimento levaria cerca de 3 meses para acontecer e, por isso, após esse período as cólicas sumiriam.
Outros estudiosos acreditam que a imaturidade do sistema nervoso e a sua incapacidade e falta de recursos para lidar com os estímulos constantes que recebem provocam um quadro de estresse no bebê que aparece normalmente no final do dia, quando é o horário mais comum das cólicas.
Outros autores acreditam em uma nova possibilidade: o bebê sente muita dificuldade em lidar com tantas novidades nessa sua chegada ao mundo, por estar despreparado para essa mudança, tendo nascido antes do tempo adequado de amadurecimento de seus órgãos e sistemas. Assim, o choro é motivado por uma busca das condições intrauterinas, com as quais ele conviveu e estava habituado. Assim, sempre que o bebê estiver mamando ou no colo da mãe, ele se acalmaria e a “pretensa cólica” sumiria.
Mas cólica não é sempre que o bebê chora sem motivo aparente, por um longo tempo, normalmente até os 3 meses, a maior parte das vezes no final do dia, se esticando ou se contorcendo ou se dobrando, ficando vermelhinho e soltando gases? E ainda mais se melhora quando se pega no colo ou se dá de mamar?
Como saber disso com certeza? Como saber se esse choro não é de uma dor em algum outro lugar no corpo, se é um incômodo por um barulho incômodo ou pela falta incômoda de um som conhecido (batimento cardíaco e respiração da mãe)? Ou não poderia ser por conta de frio ou calor, sono com dificuldade de adormecer, sede ou até a insegurança da solidão?
E os gases?
Esses são outros possíveis injustiçados. Eles podem ser, na maior parte das vezes, consequências e não causas do problema.
Vamos diferenciar dois tipos de gases: o arroto e os flatos (mais conhecidos como puns).
O arroto é a saída de um ar que foi engolido e que está no estômago. Esse ar não costuma passar do estômago para o intestino. Ele costuma ser eliminado. Já os puns são resultado da digestão que acontece no intestino e que tem um cheiro característico (alguns mais do que outros... arghhh) e que não voltam para o estômago.
Um bebê que mama no seio materno, com a pega adequada, consegue criar uma condição que não permite que ele engula ar. Assim ele não tem nem tanta necessidade de arrotar para dormir, embora esse estímulo possa ser dado. Já o bebê que mama leite na mamadeira ou usa chupeta engole muito mais ar (aerofagia) e esse sim pode incomodar e precisa ser eliminado pelo arroto.
Outra possibilidade de acúmulo desses gases é quando o bebê chora. E se ele chora tanto, ele engole muito ar que incomoda no estômago e precisa ser eliminado.
Uma situação muito comum: o bebê está chorando muito, a mamãe o pega em seu colo, ele arrota e acalma. Interpretação? Ele estava cheio de ar no estômago após mamar, estava incomodando, a mãe o levantou, ele arrotou, acalmou e dormiu.
Se o bebê mama o seio na pega correta, o que provavelmente acontece é que o bebê mamou, a mãe o colocou no berço, o bebê sentiu sua falta e começou a chorar. Com o choro ele engoliu muito ar. A mãe o pegou no colo, acariciou e acalmou seu bebê, ele relaxou e aí conseguiu arrotar, eliminando o ar que ele engoliu enquanto chorava.
Além disso, para eliminar os gases que foram parar no estômago através do arroto, a melhor posição é a vertical. Como antes “não era pecado” ficar com os filhos mais tempo no colo, eles eliminavam esse ar com mais facilidade. Agora, como o bebê mama, muitas vezes na mamadeira e é colocado a seguir no berço, muitas vezes com a chupeta, ele engole mais ar e tem mais dificuldade de eliminá-lo.
Ficar com o bebê no colo por algum tempo após a mamada é bom para o bebê se acalmar, relaxar por estar com a mãe e dormir melhor. Pode ajudar também para evitar refluxo (mesmo o fisiológico, o regurgitar). Ele pode até arrotar nessa hora. Que bom, né? Mas se não acontecer, pode ser porque ele mamou bem, teve uma pega adequada, não engoliu ar e assim não tem o que arrotar.
Mas se não existe uma certeza que as cólicas existem, por que o bebê chora tanto?
O bebê pode chorar por inúmeras razões: fome, sede, frio, calor, sono, solidão, dificuldades de adaptação...
Há bebês que choram mais e outros que choram menos e isso pode acontecer porque há bebês que têm mais razões para chorar e outros menos, ou porque há bebês que têm seus problemas resolvidos de forma mais eficaz e outros menos.
Alguns fatores podem ser determinantes nessa diferenciação.
Mas isso fica para a semana que vem. Ainda vamos falar sobre essas razões do choro, um pouco mais sobre a exterogestação e sobre o que fazer, quer sejam mesmo cólicas ou alguma outra possibilidade para que o bebê se acalme, permita que as mamães se acalmem, o que vai fazer o bebê se acalmar, o que vai fazer a mamãe... tá, já deu pra entender não é mesmo?
A gente se encontra por aqui na próxima semana? Até lá.


cólica parte 5:
Passou-se um tempo, já são 4 capítulos da novela “A CÓLICA”, muitas explicações e espero que uma parte das mães já possam ter se entendido com seus filhos e que essa situação já esteja sob controle.
Mas certamente há crianças que estão começando essa fase agora ou que ainda não conseguiram ser compreendidas e ainda estão chorando, causando sofrimento e insegurança em seus pais.
Se as cólicas existem ou não, se são causados por uma prematuridade geral ou pela necessidade de contato com a mãe, ou a soma e mistura de todas essas e muitas outras teorias, o fato é que uma criança que até o 3º mês:
• Chora demais;
• Sem uma causa aparente (amamentada em livre-demanda, limpa e sequinha, ritmo intestinal em dia, na temperatura ideal – sem sinais de frio ou calor, mesmo em companhia da mãe);
• Sem consolo;
• Se contorce e se estica;
• Endurece seu corpo;
... gera uma sensação de impotência e, porque não dizer, de desespero em seus pais.
Dá pra evitar?
É fundamental que o casal, durante o pré-natal, tenha acesso à informação.
O obstetra não é apenas o médico que pesa, mede o tamanho da “barriga”, receita vitaminas e vacinas, pede exames, mas também o seu primeiro aliado no esclarecimento sobre essa nova fase que se aproxima. Dúvidas iniciais sobre sua alimentação, hidratação, atividades físicas, aleitamento materno entre outras podem ser esclarecidas nessas consultas periódicas.
Além disso, a Sociedade Brasileira de Pediatria preconiza e recomenda uma consulta com seu pediatra de confiança a partir da 32ª semana de gestação, Para complementar essas orientações e diminuir ao máximo a ansiedade quanto ao parto e ao pós-parto, tanto na maternidade quanto nos dias que antecedem a primeira consulta pós-parto (entre 7 e 15 dias de vida).
Algumas informações interessantes:
• A alimentação da gestante deve ser equilibrada, saudável. Não existe NENHUM ALIMENTO que seja contraindicado (talvez apenas carne crua – carpaccio, sushis e sashimis e excesso de sal);
• Os estudos mais recentes mostram que não há indicação de se evitar leite, glúten, outros alimentos para prevenir cólicas, alergias ou intolerâncias alimentares;
• A alimentação da gestante deve privilegiar todos os grupos alimentares importantes e a suplementação de alguns nutrientes e vitaminas (ácido fólico, ferro, ômega 3) pode ser feita através de “medicamentos” ou “suplementos”;
• A hidratação da gestante depende de cada fase de sua gestação e de sua clínica (em relação a inchaços, náuseas, pressão);
• A gestante pode e deve manter atividade física, evitando o sedentarismo, e a intensidade será variável de acordo com a recomendação se seu obstetra.
Mas, como não sabemos, de fato, as causas dos sintomas que o bebê pode apresentar (e que podemos chamar de “cólicas”), a informação e os acompanhamentos médicos (obstetra e pediatra) e nutricional (nutricionista) adequados são as formas mais eficazes de prevenção.
Alguns comentários fundamentais
Não
Na imensa e esmagadora maioria das vezes, ninguém está fazendo nada de errado ou deixando de fazer algo certo que crie essa situação. Sempre converse com seu médico (obstetra ou pediatra) para uma orientação.
Sim
Tentar um monte de atitudes e mudanças ao mesmo tempo dificulta tanto em saber o que é o quadro quanto em resolvê-lo. Não deixe o choro do bebê provocar uma ansiedade tão intensa que se comece ouvir mil sugestões e colocá-las em prática. Ao final, se alguma delas resolver ou piorar o quadro ficará muito complicado saber o que foi.
Não
O bebê não nasce pronto. Seus órgãos e suas funções levam um certo tempo para se adaptarem e “aprenderem o que tem que ser feito”. Quando o bebê nasce e mama o leite materno ele pode evacuar a cada mamada, fezes líquidas, como passar até 5 a7 dias sem evacuar, fezes pastosas. Ao final de um ano de idade ele passa a evacuar entre uma a duas vezes a cada um a dois dias. Isso não acontece de repente. Isso vai acontecendo aos poucos, de acordo com o amadurecimento do seu bebê e de seus sistemas.
Sim
A depressão pós-parto e a ansiedade pela volta ao trabalho podem ser fatores que interferem na dinâmica da dupla mãe-bebê e podem estar tanto relacionadas com as cólicas como causar emoções que podem ser confundidas com as cólicas. Assim, tanto uma detecção precoce desses quadros quanto a orientação (psicológica e/ou até medicamentosa) desses quadros pode ajudar nessa fase.
Não
Não tente resolver tudo sozinha. Aceite e até peça ajuda para situações do seu dia-a-dia, para que você possa estar preparada e descansada para cuidar dessa situação. Se alguém quiser ficar com seu bebê para que você descanse ou quando você estiver incomodada com o choro dele (sim você é humana), a resposta pode ser sim. Se alguém se oferecer para fazer compras no supermercado, lavar sua roupa, limpar sua casa, fazer uma massagem em seus pés, a resposte deve ser sim. Permita-se.
Sim
Essa é uma situação temporária e vai passar. Você sempre pode estar junto de seu bebê para que ele entenda que, mesmo que você não possa fazer o sofrimento dele parar imediatamente, você sempre poderá estar lá para aconchegá-lo nesse (e em muitos outros momentos) da vida dele. E isso é muito importante tanto para ele quanto para você.
Tá legal! Mas o que eu faço para isso passar?
Na próxima e última parte dessa série, vou trazer dicas para todas as possibilidades abordadas aqui. Espero que alguma delas se encaixe no seu caso e ajude o bebê se acalmar, permitindo que as mamães se acalmem, o que vai fazer o bebê se acalmar, o que vai fazer a mamãe... hummm , acho que eu já disse isso.
Até lá, então?


cólicas parte 6:
Eu ia terminar hoje, mas achei um material interessante, que apesar de ir um pouco na contramão da linha dessa minha matéria, aparece no site da Sociedade Brasileira de Pediatria como highlight (destaque) do XV Congresso Brasileiro e XIX Congresso Latino Americano de Gastroenterologia Pediátrica, realizado de 26 a 29 de março de 2014, em Natal/RN, Brasil.
Médica examinando bebê deitado sobre a mesa e quadro negro ao fundo com ilustrações científicas - Foto: Creativa/Shutterstock.com
Transcrevo aqui, a matéria na íntegra para conhecimento de todos.
Distúrbios gastrointestinais funcionais: do lactente ao adolescente
Cólica do lactente
Palestrante: Carlos Alberto Velasco Benitez
Cólica do lactente, regurgitação, constipação, agitação, irritabilidade e produção excessiva de gases são desordens funcionais frequentes nos primeiros meses de vida.  A cólica do lactente pode nos casos mais graves gerar angústia, insegurança e exaustão nos pais, disse Dr Carlos Velasco. Ele definiu a cólica do lactente, segundo os critérios clínicos postulados por Dr. Wessel em 1954 e conhecidos com “Regra dos 3”: lactente até 3 meses de idade, com choro intenso por 3 ou mais horas por dia, por pelo menos 3 dias na semana e por 3 semanas seguidas, sem que haja uma causa identificável para o choro. Em 2006, Hynan et al publicaram no  Gastroenterology um resumo dos critérios de Roma III para as desordens funcionais nos lactentes e pré-escolares  e como citou Dr. Velasco, com pequenas variantes, reforçam os mesmos critérios clínicos do Dr. Wessel. Pelos critérios de Roma III cólicas do lactente são paroxismos de choro, irritabilidade e agitação, em lactentes com menos de 4 meses, que duram 3 ou mais horas, pelo menos por  3  dias por semana, por pelo menos uma semana. Os paroxismos começam e acabam, de forma abrupta e nenhuma causa aparente para o quadro é encontrado e além do mais o lactente continua crescendo normalmente.
A cólica do lactente tem distribuição universal, afetando igualmente ambos os sexos e independe se o lactente está em aleitamento materno ou em uso de fórmula infantil. A prevalência varia de 8 a 30%, sendo no seu país, Colômbia, de 29%.
A fisiopatologia é multifatorial, com fatores ambientais, alteração da motilidade, disbiose e imaturidade neurológica.
O diagnóstico é clínico. O que predomina é um choro alto, excessivo e persistente, que na maioria das vezes ocorre no final da tarde.  Dr. Velasco chama a atenção para sinais de alarme que podem indicar outras causas de choro excessivo no lactente como irritabilidade extrema, taquicardia, palidez cutânea mucosa, sinais de má perfusão, petéquias, equimoses, taquipneia, hipotonia, fontanela abaulada, comprometimento pôndero-estatural e alteração no perímetro cefálico. Da mesma forma, na presença de sinais e sintomas como vômitos biliares, fezes sanguinolentas, febre, letargia e inapetência, também é necessário rever o diagnóstico.
Não há uma terapia específica para as cólicas do lactente e na ausência de sinais de alarme a conduta inicial mais importante é tranquilizar os pais e explicar a natureza autolimitada do sintoma. Outras condutas como alteração na dieta, uso de lactase, probióticos, medicamentos e medidas alternativas carecem de consenso e devem ser utilizadas com critério, complementou o Dr. Carlos Velasco.
Nas crianças em aleitamento materno exclusivo, alguns estudos avaliam o papel da dieta materna hipoalergênica, sem leite de vaca, ovo, amendoim, castanhas, trigo, soja e peixes demonstrando melhora dos sintomas em um grupo de lactentes. Nos pacientes em aleitamento artificial estudos demonstram que o uso de fórmula extensamente hidrolisada (EH) e, nas crianças sem fator de risco para alergia, fórmula parcialmente hidrolisada (PH) podem ser úteis no manejo desses lactentes, provavelmente por melhorarem a digestão e o esvaziamento gástrico, diminuindo a distensão gástrica e produção de gases. Não havendo resposta após uma a duas semanas em dieta hipoalergênica, voltar a dieta habitual. Por outro lado estudos que avaliaram o uso de fibras na dieta, soja e lactase não demonstraram resultados promissores. Bloqueadores de bomba também não apresentaram resultados positivos.
Fitoterapia e técnica de massagens não apresentaram evidência científica de melhora na cólica do lactente.
Alguns estudos demonstram que pode haver evidencia no uso de probióticos, com diminuição do tempo de choro do lactente. Estudo de Indrio e colaboradores publicado no JAMA Pediatrics, agora em 2014, avaliou 589 lactentes e demonstrou que o uso de Lactobacillus reuterii 1 x ao dia diminui o número de regurgitações, e a duração do choro e do hábito intestinal. Embora os resultados sejam promissores não há uma base forte de evidência que apoie a sua recomendação.
Em relação aos medicamentos, a simeticona mostrou resultados iguais ao placebo, assim como o cloridrato de diciclomina e brometo de cimetrópio que, inclusive, podem causar efeitos adversos.
Alguns estudos avaliaram condutas caseiras como enrolar a criança, banhar em água morna, andar de carro na hora da crise de cólica, evitar excesso de manipulação e até uso de chás, mas a qualidade metodológica desses ensaios não foi suficiente para permitir a recomendação de nenhum deles, falou Dr. Carlos Velasco.
Portanto, como vários fatores contribuem para a cólica do lactente é improvável que se encontre uma única intervenção que solucione o problema na população em geral. Ficar atento aos sinais de alarme e, em situações específicas, fazer teste terapêutico para DRGE (Doença do Refluxo Gastro Esofágico) ou alergia alimentar, para confirmar ou afastar essas morbidades, parece ser, por enquanto, o mais recomendado. Medidas caseiras que estejam dando certo podem ser encorajadas a continuar, desde que não tragam prejuízo para o lactente.
Comentários
Eu coloquei no texto alguns links e observações (poucos) para ajudar na compreensão de alguns termos mais técnicos e algumas classificações, além da referência a alguns dos trabalhos citados.
Como se percebe, de acordo com o que já escrevi nos “capítulos anteriores”, não há exames de confirmação e é necessário afastar outras possíveis causas clínicas antes de se fechar o diagnóstico de cólicas, fazendo desse um diagnóstico de exclusão (precisa excluir outras possíveis causas).
Os tratamentos medicamentosos para cólicas e gases não são recomendados por não apresentarem comprovação científica de sua ação. Outras atitudes (até levar para passear de carro) não resolvem o problema.
O que está citado como resultado mais favorável (uso de probióticos, especificamente o Lactobacilus reuterii, uso de fórmulas infantis mais específicas, restrição alimentar da mãe em crianças em aleitamento materno exclusivo) não apresenta nenhum consenso e não é conduta recomendada como rotina, podendo, em determinadas situações, ser tentada, de acordo com avaliação e recomendação médica.
No creo em brujas, pelo que las hay, las hay.
Essa é uma frase que aparece em Don Quixote de Miguel de Cervantes, com origens e comprovações muito discutidas. Das explicações que li na internet uma que gostei muito aponta para um dito popular em castelhano, ao qual se atribui origem galega (bruxas ou “meiga”, como se diz em galego), mais especificamente muito arraigada na Galiza, pelo que a forma original da frase, segundo a versão da Wikipedia, é “eu non creo nas meigas, mais habelas hainas”.
Assim são as cólicas, ou alguma situação pela qual a criança está passando, que a leva a ter reações que incomodam bastante os pais, a família, mas principalmente a própria criança, incompreendida nesses momentos.
Não estou enrolando vocês, eu jurooooo... rsrs. Achei importante destacar uma aula atual e trazer aqui o que temos de informações mais recentes apresentadas em um congresso brasileiro e latino-americano da especialidade para mostrar que apesar de ser um sintoma muito comum, aparentemente simples de se demonstrar e comprovar e que, apesar de toda tecnologia evoluída que temos, cólicas do primeiro trimestre não apresentam ainda nenhuma certeza de diagnóstico e muito menos de tratamento.
Cólicas ou não cólicas, na próxima ou (talvez... rsrs) última parte dessa tragédia espanhola ou grega, quero trazer muitas possibilidades que podem ser tentadas para se compreender melhor essa fase de desenvolvimento do bebê.
Até lá.
cólicas parte 7:
Bom, já deixei um tempo para que as informações dessas partes anteriores fossem devidamente avaliadas, digeridas e que as dúvidas fossem esclarecidas.
Então agora, vamos para a parte prática e para algumas dicas sobre o que se pode fazer na tentativa de passar por essa fase, independente do nome que se queira dar ao quadro, adequado ou não (cólicas, manha, salto de desenvolvimento, pico de crescimento, exterogestação, ou qualquer outro).
Papai abraçando a mamãe que segura o bebê no colo - Foto: Andy Dean Photography/ShutterStock.com
Quando não esperar e conversar com pediatra
Bebês podem chorar por várias razões, muitas vezes é difícil entender o que eles querem.  Mas algumas situações devem servir de alerta para que alguma providência seja tomada mais rapidamente e, sempre que possível, com orientação médica (pediatra ou pronto-socorro).
Podemos pensar em situações mais agudas:
• O bebê chora e tem sintomas como febre, vômitos, diarreia, tosse, entre outros;
• O choro do bebê é inconsolável, não para no colo, não para quando mama;
• O bebê chora muito e não está evacuando como de costume e/ou as fraldas estão mais secas (sem urina) do que o habitual;
• A duração do choro está excessiva, sem ter um tempo determinado para isso, mas além do que é o tempo habitual de choro de seu bebê;
Além disso, quadros que mostram alguma alteração mais duradoura:
• O quadro passou de 4 meses;
• O ganho de peso e estatura não estão adequados;
• As crises aparecem mais de uma vez por noite e interferem demais no sono e na alimentação do bebê;
• Por conta desse quadro do bebê, vocês (mãe e pai) estão muito irritados, nervosos, tristes, desconsolados, com sono irregular.
Além disso, tanto nos quadros agudos como nas situações crônicas, aparecem problemas ou situações que não estão entre essas que estão descritas acima, mas estão exigindo mais atenção e causando dificuldades para a dinâmica do bebê e/ou da família.
Independente de a que quadro estivermos nos referindo, NUNCA AUTOMEDIQUE OU “AUTODESMEDIQUE” SEU BEBÊ. Nessas situações converse com seu pediatra de confiança o quanto antes. Discuta essa situação com ele. Esclareça suas dúvidas. Exponha sua ansiedade e suas preocupações. Só assim, será possível agilizar a solução ou o encaminhamento do problema.
Mas lembre-se que essas situações existem, mas são mais raras. Nos dias de hoje, parece que estamos vivendo uma epidemia de alergia a proteína do leite de vaca (APLV), intolerância à lactose, ao glúten, doença de refluxo gastroesofágico (DRGE). O que os estudos mostram até hoje em dia é que esses quadros não aparecem nem em 10% das crianças, sendo que no restante (90%), em sua imensa maioria, não há necessidade de nenhum tratamento medicamentoso.
Colo vicia? Atenção constante e imediata faz mal?
Essa situação já é motivo de estudos e pesquisas há muito tempo (isso mesmo, você não é a primeira e muito menos a única mãe a passar por essas dúvidas e esses “desafios”... rsrs).
Foi publicado na edição de dezembro de 1984 do Pediatrics, um estudo realizado por Bruce Taubman, um pediatra na Filadélfia, com 2 grupos de 30 crianças cada um. Um grupo de crianças com cólicas, que apresentavam uma média de 2,6 horas de choro ao dia e outro, sem cólicas, que chorava uma média de 1 hora por dia.
Nesse estudo, se avaliava a importância da interação dos pais com as crianças como fator de modificação das crises. Foram passadas algumas orientações básicas para esses dois grupos.
Grupo 1 – Bebês com cólicas
1. Tente não deixar nunca o bebê chorando.
2. Para descobrir por que seu filho está chorando, tenha em conta as seguintes possibilidades:

a- O bebê tem fome e quer mamar.
b- O bebê quer sugar, mesmo sem fome.
c- O bebê quer colo.
d- O bebê está entediado e quer distração.
e- O bebê está cansado e quer dormir.

3. Se continuar chorando durante mais de cinco minutos com uma opção, tente com outra.
4. Decida você mesma em qual ordem testará as opções anteriores.
5. Não tenha medo de superalimentar seu filho. Isso não vai acontecer.
6. Não tenha medo de estragar seu filho. Isso também não vai acontecer.
Grupo 2 – Bebês sem cólicas
1. Quando o bebê chorar e você não souber o que está acontecendo, deixe-o no berço e saia do quarto.
2. Se após vinte minutos ele continuar chorando, torne a entrar, verifique (um minuto) que não há nada, e volte a sair do quarto.
3. Se após vinte minutos ele continuar chorando, etc.
4. Se após três horas ele continuar chorando, alimente-o e recomece.
O que se observou?
As conclusões apontaram para a importância da atenção dada às crianças nessa fase.
O grupo 1 (bebês com cólicas que tinham a atenção das mães) teve uma diminuição, após 2 semanas, de 2,6 para 0,8 horas de choro ao dia, comparadas com um aumento do número de horas de choro do grupo 2 (grupo controle sem cólicas que não recebia a atenção da mãe imediata) para 3,1 horas ao dia.
O Dr. Carlos Gonzalez (pediatra espanhol), em seu livro “Un regalo para toda la vida - Guía de la lactancia materna”, chama atenção para as duas últimas recomendações dadas ao grupo de bebês com cólicas:
- É impossível superalimentar um bebê por oferecer-lhe muita comida (que o digam as mães que tentam enfiar a papinha em um bebê que não quer comer)
- É impossível estragar um bebê dando-lhe muita atenção. Estragar significa prejudicá-lo. Estragar uma criança é bater nela, insultá-la, ridicularizá-la, ignorar seu choro. Contrariamente, dar atenção, dar colo, acariciá-la, consolá-la, falar com ela, beijá-la, sorrir para ela são e sempre foram uma maneira de criá-la bem, não de estragá-la.
- Não existe nenhuma doença mental causada por um excesso de colo, de carinho, de afagos... E, contudo, a prevenção dessa doença mental imaginária, o estrago infantil crônico, parece ser a maior preocupação de nossa sociedade.
- E se não, amiga leitora, relembre e compare: quantas pessoas, desde que você ficou grávida, avisaram da importância de colocar protetores de tomada, de guardar em lugar seguro os produtos tóxicos, de usar uma cadeirinha de segurança no carro ou de vacinar seu filho contra o tétano? Quantas pessoas, por outro lado, avisaram para você não dar muito colo, não colocar para dormir na sua cama, não “acostumar mal” o bebê?
Dicas práticas que podem ajudar na maioria dos casos
Se os pais observam bem seus bebês, conversam e esclarecem as dúvidas com seus pediatras, se os riscos menos comuns e que necessitam de uma intervenção mais urgente estão afastados, fica muito mais “fácil” tomar algumas providências que podem resolver ou pelo menos minimizar essa situação.
Sempre é interessante observar e tentar achar um ritmo, identificar se existe um padrão de choro do bebê, o que melhora, o que piora, se tem algum horário mais comum onde o choro aparece. Isso pode facilitar a compreensão e ajudar na solução do caso.
Passando às dicas e sugestões, vale a pena pensar em partes, lembrando sempre que o bebê pode se beneficiar muito quando há uma rotina nos seus primeiros meses de vida extrauterina.
ALIMENTAÇÃO DO BEBÊ E DA MÃE
- O uso de chupetas e mamadeiras pode aumentar as chances de deglutição de ar quando o bebê suga. Sempre que possível, evite-as. Se for usar, restrinja o tempo.
- O aleitamento materno em livre-demanda nutre e alimenta o corpo e conforta a alma do bebê, acalmando grande parte de suas inseguranças.
- Apesar de não haver estudos que confirmem essa possibilidade, tente evitar na sua alimentação alimentos que possam causar gases, eliminando uma possível causa por alguns dias e avaliando as mudanças. Os maiores causadores de desconforto abdominal são produtos enlatados, cafeína, brócolis entre outros, mas para cada caso pode ser um alimento diferente.
AMBIENTE
- Ambientes calmos, com temperatura agradável, pouca luminosidade, música calma, o canto da mãe ou sons da natureza, uma cadeira de balanço ou uma poltrona confortável podem fazer com que a mãe e o bebê sintam-se mais confortáveis.
- Passeios fora de casa, por um tempo não prolongado, com poucas atividades que estimulem e excitem o bebê, especialmente antes de dormir podem ser feitos tanto no período em que o bebê está calmo e feliz quanto quando ele chora, para tentar distraí-lo e acalmá-lo.
CONTATO COM O BEBÊ
- Segure o bebê mais inclinado.
- O sling (carregadores) pode ser usado de rotina e durante o período de cólicas.
- Deitar o bebê com a barriguinha em seu colo, massagem suave nas costas ou no corpo todo (Shantalla pode ser uma opção interessante), flexão leve das perninhas sobre a barriga, colocando-o no berço se ele adormecer.
CONFORTO E CALOR
- Um banho morno no bebê, uma toalha ou fralda mornas na barriguinha, enrolar o bebê em um cobertor aquecido também podem ajudar.
Se nada resolver, volte a conversar com seu pediatra para que ele possa avaliar seu bebê clinicamente e orientar sobre medicações ou outras condutas necessárias.
Independente de tudo isso, por mais que o choro de seu bebê não seja algo fácil de aceitar, vale lembrar que essa é uma fase passageira, que a sua segurança e compreensão da situação são importantes para que o desespero não tome conta da família e que, sempre que necessário, o pediatra é seu aliado nessa fase e pode e deve ser consultado sempre que houver qualquer tipo de dúvida (não apenas essa).
Outras fases virão (dentição, angústia da separação, introdução alimentar, volta ao trabalho, desfralde, adolescência) e cada uma delas será importante para o amadurecimento do bebê e de vocês como pais.
E quando tudo parece sob controle... a menstruação atrasou? Será? Rsrs.
Até o nosso próximo encontro por aqui.
http://guiadobebe.uol.com.br/colicas-em-bebes-parte-7/

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